26 fevereiro 2008

[mudamos!]

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21 fevereiro 2008

[back to the past]

[há mais ou menos um mês eu tive a idéia de fazer uma matéria na qual voltaria ao ensino médio disfarçado, para sacar qual é a da adolescência de hoje. O resultado saiu hoje no caderno For Teens, mas aqui tem o texto inteiro, antes da edição necessária ao jornal]
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Quando eu me vi todo fardado, me posicionei no quarto de forma a ficar refletido no espelho do banheiro e no do guarda-roupa. Uma sensação meio "O médico e o monstro" tomou conta e, em um, eu via um Rafael amedrontado, querendo desistir da idéia maluca de aparentar ser um adolescente e no outro, aquele cara que nunca esteve tão empolgado em fazer uma matéria.
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Quando desci as escadas, não era nem Dr. Jekyll nem Mr. Hyde: decidi que o melhor era ser eu mesmo, com essa cara de 23 anos que eu penso que aparenta menos e tentar saber qual a sensação de voltar ao Ensino Médio depois de seis anos em que eu saí dele. E, antes de mais palavras: foi a sensação mais maluca que já havia sentido.

Esperando o ônibus para meu primeiro dia, uma prova de que eu realmente estava com o espírito teen: ganhei uma carona e conheci minha primeira colega de escola. A história sobre meu "back to the past" estava na ponta da língua: eu havia parado de estudar por um ano e meio e agora voltava ao batente para recuperar o tempo perdido. Com isso, poderia segurar minha presença numa sala cheia de adolescentes.

A primeira decisão foi escolher o local de sentar. Fui para o fundão, esse lugar que os professores pensam sentar a galera bagunceira por não entenderem que eles são os mais legais. Primeira aula: Geografia, com uma recapitulação do ano anterior.

Eu juro que não acho que seja burro. Então, como diabos eu estava tão enferrujado, meu Deus? Na aula, detalhes bobos como latitude e longitude me eram extremamente conhecidos, mas a minha capacidade de defini-los, essa, passou bem de longe. Matemática, Física, Química e qualquer coisa que se vale de números continuou sendo uma incógnita na minha cabeça.

Passei as três primeiras aulas calado e a agonia do "não falar" sempre me dá a idéia de que ninguém quer estar perto de mim. Aproveitei para olhar mais para a sala, esquecendo um pouco a adolescência e fazendo uma investigação jornalística. Completamente heterogênea, mesmo no pequeno universo dos seus 22 alunos, a turma possuía características que, ao mesmo tempo em que me remetiam ao meu tempo de estudante, eram novas.

Sem dúvida, a pessoa que mais chama atenção no instante inicial é o Yuri. Falante, muito falante, o garoto é amigo de todos e fala com todos, pergunta sempre e não pára quieto. Mesmo que você não o veja, irá perceber que ele está na sala. Foi dele a única desconfiança quanto à minha “identidade secreta”.

Depois meu olhar foi direto à uma garota: vestindo uma camisa do Che Guevara, despertando meu antigo lado socialista universitário, Alejandra entrou na sala atrasada e sorrindo, sentando perto de mim. O que posso dizer é que poucas vezes tinha visto um senso de humor tão fino quanto o dela e, caso os meus 23 anos fossem 17, com certeza ela ganharia um admirador secreto tipicamente adolescente.

Ela veio acompanhada da Luciana. Taí uma pessoa que não existia há seis anos, pelo menos não em meu mundo adolescente. Ruiva, com cinco tatuagens, aparência de quem sempre faz coisas mais interessantes do que você, ela era aquele modelo de menina que você pensa só pode existir na universidade, por sua aparência tão liberal. Sorte de quem é adolescente hoje, que não precisa esperar ser universitário para conhecer pessoas assim.

Foi delas que me aproximei no primeiro momento. No vai e vem das carteiras, sentaram próximas a mim e passamos o restante da aula entre uma conversa e outra. O primeiro dia foi o mais difícil, porque parecia que me descobririam a qualquer momento. Mas eu não percebia olhares estranhos, nem conversinhas com risadas olhando para mim. Não sabia se me assustava mais com isso, porque, na minha cabeça, era muito fácil de que percebessem que eu não deveria estar ali.

Nas minhas conversas com os meus amigos antes da matéria, ninguém acreditava que eu pudesse me passar por 18 anos. E, mesmo que não fosse minha intenção enganar ninguém, o texto só teria graça se eu realmente aparentasse ter menos idade. Aliás, bem menos idade. E deu certo. Correndo o risco de parecer bobo, tenho que admitir que foi como voltar no tempo.

Durante seis horas por dia eu tive cinco anos a menos, não só porque as pessoas que estavam perto de mim consideravam isso, mas porque eu me sentia assim. E eu sentia por sempre ter achado a adolescência a fase mais interessante da vida. Você é tudo e, ao mesmo tempo, não é nada, simplesmente porque ainda não se definiu por completo.

E nessa necessidade de se achar, a gente vai fazendo amigos. Não foi preciso mais que uma semana para eu perceber porque os adolescentes são mais felizes que os adultos. Não é porque eles não pagam contas ou não trabalham. Simplesmente quando se tem 17 anos você está bem mais aberto a conhecer gente nova.

Vá lá, claro que se procura aqueles que têm algo em comum com você, mas quando se acha, fica tudo fácil. Esse foi o meu caso com a turma do fundão: João Batista, Ivo e Pedro. Os três são o grupo que anima a sala de aula. E, claro, foi deles que eu quis me aproximar. Quem já assistiu ao filme “Nunca fui beijada”, sabe que a personagem de Drew Barrymore, Josie Geller, não teve uma high school muito popular.

Eu nunca fui nem um extremo nem outro. Não era o bobo da corte muito menos o rei da popularidade. O meio termo sempre me fez melhor porque eu não precisava me preocupar em ter professores na minha cola, já que eles percebiam que eu era bom de notas. No meu novo ensino médio, mandei essa coisa de ficar em cima do muro para longe.

A primeira vez em que eu sentei perto dessa turma foi quando o João Batista nos chamou, eu e o Pedro Henrique, mais um novato, para conversar com o pessoal na hora do intervalo. Na aula, fui me chegando e vendo que era ali que seria meu posto. O João é aquele cara que fala com todo mundo porque todo mundo parece querer falar com ele. Transita em todos os grupos, até mesmo nos de outras séries, é conhecido de todos os professores e é o comediante da turma, além de ser garoto propaganda da escola.

O Ivo é a prova de que sentar atrás da sala não quer dizer que você não seja inteligente. Sempre com respostas certas a dizer, o cara se garantia em todas as aulas, falando dos assuntos com propriedade, mesmo que estivesse lá na última carteira e conversasse comigo um bocado da aula.

O Pedro é o cara dos esportes. Tem sempre uma história mirabolante para contar, seja ela rocambolesca ou muito engraçada e pratica uma porrada de artes marciais, ou seja, não brinque com ele. Brincadeira: ele é super tranqüilo, mesmo que, do nada, ele possa te querer para treinar uns golpes.

Nesse mundinho chegou, rápida, a Layne. Novata (como eu), a gente logo se enturmou, não só por conversarmos facilmente, mas para unirmos forças, já que uma escola nova sempre é um local hostil. Ela era a parte feminina dessas pessoas com quem passei as aulas e das que mais me aproximei.

Fiquei perto deles a semana inteira, ao ponto de a diretora da escola, uma das duas pessoas que sabiam da minha história de verdade, ficar impressionada do quanto a gente se entrosou ao grupo. E, nesse entrosamento, não só com eles mas o que me fez olhar toda a sala, eu vi uma adolescência que se mostrou diferente da minha em pontos bem interessantes.

O primeiro de todos é a tolerância desse pessoal ao diferente. Ao contrário do que eu percebia quando jovem, essa geração parece ter maior capacidade em aceitar as diferenças, mesmo quando não as entende. Ao invés de, simplesmente, serem preconceituosos, eles tentam trabalhar com esses conceitos de certo e errado na cabeça, procurando um ponto em comum que possa justificar a aproximação daqueles que não são iguaizinhos ao que todo mundo acredita ser o correto.

Não precisei mudar minha forma de falar, nem escolher assuntos banais. Conversávamos sobre tudo e, eu que sempre fui de falar demais, ainda puxava temas sem sentido, para manter o papo, como quando falei a história verídica de um amigo que chama a namorada de “chegado”. No mais, eu via muitas semelhanças. Via muitos professores jovens que parecem que esqueceram que tinham aquela idade há pouco tempo e não entendem os adolescentes.

Percebi o quanto é difícil ser professor, tendo de, ao mesmo tempo, manter a autoridade, mas fazendo concessões, o que, diante de uma platéia com aquela idade, é complicado, já que todos parecem querer coisas diferentes. Porém, vi outros muitos que conseguem prender a atenção simplesmente mostrando o bom das suas disciplinas e, por várias vezes, não se ouvia nada na sala a não ser a voz do professor, não porque ele havia brigado, mas porque ele fazia seu assunto tornar-se interessante.

Claro, chegou a hora da revelação. Mesmo com toda a diversão de voltar no tempo, o cerco já estava se fechando e foi preciso por um fim à essa loucura toda. Escolhemos a sexta-feira, especificamente a última aula e, precedidos por um discurso da diretora sobre uma suposta experiência que a turma estava participando, levantei e me apresentei.

“Pessoal, meu nome, como vocês sabem, é Luis Rafael. Só que eu sou conhecido como Rafael, mais especificamente, Rafael Campos, repórter do Jornal Meio Norte e que passou com vocês essa semana fazendo uma matéria para o For Teens”. Boquiabertos diz pouco sobre a reação deles. O medo que eu tive era de que a idéia não fosse absorvida da forma que pensava.

Não estava ali para vigiar ninguém, tampouco dar lições de moral. A idéia sempre foi saber como um adulto, a tão famigerada fase que todos querem chegar só para sentir saudade do que passou, iria se comportar diante de um grupo de adolescentes. A lição que eu tirei é que pouca gente percebe o quanto a inconscequência da idade é importante.

Apesar de a maioria das pessoas sempre preocupar-se com a opinião alheia em qualquer idade, é na adolescência que a gente pensa menos nas consequência dos nossos atos. Não é que eu queira levantas bandeiras de que todo mundo deve “liberar geral”, longe disso. Mas é sempre bom se perceber adulto, com todas as responsabilidades que a palavra carrega, sem perder a idéia de que nos mantemos jovens quando nos preocupamos em fazermos o que nos faz bem.

Na música do grupo Alphaville, Forever Young, eles dizem querer ser eternamente jovens. Eu percebi que posso sê-lo, quando, na semana passada, eu voltei no tempo e vi que, muito mais que diferenças, eu mantenho semelhanças com todas aquelas pessoas que estudaram comigo. E, como não poderia deixar de ser, eu ganhei amigos, na velocidade típica de quem tem a vida inteira pela frente.

19 fevereiro 2008

13 fevereiro 2008

[me against the music]

Me entristece: Sail on sailor – Beach Boys (ouvi depois de um velório)

Me alegra: Accidentally in love – Couting Crows

Diz muito sobre mim: Like a rolling stone – Bob Dylan

Me traz lembranças de um lugar: Declare Independence – Björk

Me faz ponderar a vida: Na estrada – Marisa Monte

Não gostaria de ouvir de novo: Metal

Tocaria no meu casamento: He needs me- Shelly Duvall (Quando ela estivesse entrando e eu lá no altar)

Tocaria no meu funeral: La valse d’Amelie – Yann Tiersen

Me faz lembrar meus amigos: You know I’m no good – Amy Winehouse

Gostava, não gosto mais: Carrada de coisa

Admito que gosto: m-flo (J pop)

Faria tudo para ouvi-la num show: Kids with Guns – Gorillaz

Parece com minha adolescência: Red Hot Chilli Peppers

Muitas pessoas gostam, eu não: Cordel do Fogo Encantado

Muitas pessoas (dizem que) não gostam, mas eu sim: Funk!

Gosto da letra: Pelas tabelas – Chico Buarque

Tem sempre no meu MP3: Gorillaz

Tema da vida atual: New Soul – Yael Naim

É melhor quando tocada no carro: Assassins – Muse

Gostaria de acordar: Anyone else but you – The Moldy Peaches

Gostaria de dormir: Like a friend – Pulp (mas só até ela esquentar e eu sair da cama)

Gosto e meus pais também: Vaca Profana – Caetano Veloso

Tema de um dos meus filmes favoritos: Iron Side – Quincy Jones (Beatrix Kiddo)

Me faz pensar no sol: Diamonds on inside – Ben Harper

Me faz pensar na noite: Rehab – Amy Winehouse

Me faz pensar em sexo: Down in Mexico – The Coasters

Me faz querer estar sozinho: The letter – Macy Gray

Me faz sorrir: Gretchen

Não é do meu tipo, mas eu gosto: I’d rather dance with you – Kings of Convenience

Posso cantar bem: O último romântico – Lulu Santos

Gosto porque é instrumental: Burgundy Blues – Breakestra

Me faz lembrar alguém que eu já quis: Câncer – China

Não foi lançada agora, mas eu adoro: Preta Pretinha – Novos Baianos

Para se cantar/ dançar bêbado: qualquer coisa

Queria ter a voz de: Dave Grohl

Queria ter a história de: Eu te amo, te amo, te amo – Roberto Carlos

08 fevereiro 2008

[regras]


A dúvida do dia é: devo mudar de amigos? Uma análise superficial das minhas relações fraternais indica que, em sua maioria, com visíveis exceções, meus amigos não parecem comigo. Mesmo que sejam compartilhados gostos musicais, literários e cinematográficos, estes esbarram no meu próprio jeito de ser, que dificilmente se encaixa no que todos eles acreditam.

Olhando ainda de forma superficial, parece que eles se entendem entre si, conseguem enxergar neles essa capacidade de perceberem o mundo ao redor com bem mais facilidade do que eu. Aliás, a afirmação está errada: acho que o lance é mais de ter medo do mundo do que entendê-lo. Não que eu seja o corajosão da história, lutando para reconstruir a moral e os bons costumes; nunca teria disposição para isso.

Eu apenas faço o que eu acho que seria bom pra mim. Não faço o certo, sendo esse certo o que o senso comum espera de um rapaz recém-formado e com uma família estruturada. Tento agir de forma a não machucar ninguém, não por altruísmo, mas é porque não sei lidar com o ódio direcionado a mim. Só que parece que ao agir da maneira que eu quero, acabo, ó ironia sem fim, atraindo o ódio alheio.

Eu também sei que tenho uma porrada de defeitos, novamente sob a ótica do meu amigo senso comum. Não sou de manter relações, não dou atenção a quem não me dá, só para ser cobrado como se eu tivesse essa necessidade. Falo puta, viado e buceta o tempo inteiro e o atentado ao pudor sempre foi meu crime predileto. Sou obeso, o que para mim é um saco, e completamente instintivo, de forma a pensar que sempre é melhor fazer e depois analisar o que deu. Me preocupo demais com quem não merece e sempre quero ser amado, isso é fato.

Mas daí a começar a ser taxado só porque eu faço o que você não acha certo, aí já é ir além do que eu aceito. Se você não gosta, me diga, simples. Em uma conversa civilizada, educada e concisa, a gente pode chegar a um consenso do que eu possa melhorar a partir da sua visão de mundo. Porém, sempre é bom ter em mente que o que te faz não é minha matéria prima: somos produtos de um mesmo ato, entretanto o molde do meu caráter é, na falta de palavra melhor, único.

Espero sempre que os meus amigos tenham o que me dizer, até porque eu sou um solitário dependente e preciso, de vez em quando, de alguém me balançando pra me mostrar o mundo além dos meus postais, sob pena de ficar sem caminho. Só que tem de vir com carinho, cuidado, tranqüilidade e não colocando bandeiras de bom comportamento, como se eu tivesse roubado, espancada ou estuprado alguém.

Acho que não é preciso mudar de amigos. Acho que eu não preciso mudar o meu jeito. O que realmente deve ser feito é uma filtragem do que me dizem, ao invés de tentar fazer da minha vida um modelo de garantia que ninguém terá raiva de mim. Vão ter, vários têm. Com razões ou sem elas, unanimidades também são burras e é bom que eu comece a perceber que eu posso habitar o mesmo mundo de quem quer todos seguindo a cartilha da TFP.