[sem disfarce]
Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso. Fernando Pessoa
26 fevereiro 2008
21 fevereiro 2008
[back to the past]
Esperando o ônibus para meu primeiro dia, uma prova de que eu realmente estava com o espírito teen: ganhei uma carona e conheci minha primeira colega de escola. A história sobre meu "back to the past" estava na ponta da língua: eu havia parado de estudar por um ano e meio e agora voltava ao batente para recuperar o tempo perdido. Com isso, poderia segurar minha presença numa sala cheia de adolescentes.
A primeira decisão foi escolher o local de sentar. Fui para o fundão, esse lugar que os professores pensam sentar a galera bagunceira por não entenderem que eles são os mais legais. Primeira aula: Geografia, com uma recapitulação do ano anterior.
Eu juro que não acho que seja burro. Então, como diabos eu estava tão enferrujado, meu Deus? Na aula, detalhes bobos como latitude e longitude me eram extremamente conhecidos, mas a minha capacidade de defini-los, essa, passou bem de longe. Matemática, Física, Química e qualquer coisa que se vale de números continuou sendo uma incógnita na minha cabeça.
Passei as três primeiras aulas calado e a agonia do "não falar" sempre me dá a idéia de que ninguém quer estar perto de mim. Aproveitei para olhar mais para a sala, esquecendo um pouco a adolescência e fazendo uma investigação jornalística. Completamente heterogênea, mesmo no pequeno universo dos seus 22 alunos, a turma possuía características que, ao mesmo tempo em que me remetiam ao meu tempo de estudante, eram novas.
Sem dúvida, a pessoa que mais chama atenção no instante inicial é o Yuri. Falante, muito falante, o garoto é amigo de todos e fala com todos, pergunta sempre e não pára quieto. Mesmo que você não o veja, irá perceber que ele está na sala. Foi dele a única desconfiança quanto à minha “identidade secreta”.
Depois meu olhar foi direto à uma garota: vestindo uma camisa do Che Guevara, despertando meu antigo lado socialista universitário, Alejandra entrou na sala atrasada e sorrindo, sentando perto de mim. O que posso dizer é que poucas vezes tinha visto um senso de humor tão fino quanto o dela e, caso os meus 23 anos fossem 17, com certeza ela ganharia um admirador secreto tipicamente adolescente.
Ela veio acompanhada da Luciana. Taí uma pessoa que não existia há seis anos, pelo menos não em meu mundo adolescente. Ruiva, com cinco tatuagens, aparência de quem sempre faz coisas mais interessantes do que você, ela era aquele modelo de menina que você pensa só pode existir na universidade, por sua aparência tão liberal. Sorte de quem é adolescente hoje, que não precisa esperar ser universitário para conhecer pessoas assim.
Foi delas que me aproximei no primeiro momento. No vai e vem das carteiras, sentaram próximas a mim e passamos o restante da aula entre uma conversa e outra. O primeiro dia foi o mais difícil, porque parecia que me descobririam a qualquer momento. Mas eu não percebia olhares estranhos, nem conversinhas com risadas olhando para mim. Não sabia se me assustava mais com isso, porque, na minha cabeça, era muito fácil de que percebessem que eu não deveria estar ali.
Nas minhas conversas com os meus amigos antes da matéria, ninguém acreditava que eu pudesse me passar por 18 anos. E, mesmo que não fosse minha intenção enganar ninguém, o texto só teria graça se eu realmente aparentasse ter menos idade. Aliás, bem menos idade. E deu certo. Correndo o risco de parecer bobo, tenho que admitir que foi como voltar no tempo.
Durante seis horas por dia eu tive cinco anos a menos, não só porque as pessoas que estavam perto de mim consideravam isso, mas porque eu me sentia assim. E eu sentia por sempre ter achado a adolescência a fase mais interessante da vida. Você é tudo e, ao mesmo tempo, não é nada, simplesmente porque ainda não se definiu por completo.
E nessa necessidade de se achar, a gente vai fazendo amigos. Não foi preciso mais que uma semana para eu perceber porque os adolescentes são mais felizes que os adultos. Não é porque eles não pagam contas ou não trabalham. Simplesmente quando se tem 17 anos você está bem mais aberto a conhecer gente nova.
Vá lá, claro que se procura aqueles que têm algo em comum com você, mas quando se acha, fica tudo fácil. Esse foi o meu caso com a turma do fundão: João Batista, Ivo e Pedro. Os três são o grupo que anima a sala de aula. E, claro, foi deles que eu quis me aproximar. Quem já assistiu ao filme “Nunca fui beijada”, sabe que a personagem de Drew Barrymore, Josie Geller, não teve uma high school muito popular.
Eu nunca fui nem um extremo nem outro. Não era o bobo da corte muito menos o rei da popularidade. O meio termo sempre me fez melhor porque eu não precisava me preocupar em ter professores na minha cola, já que eles percebiam que eu era bom de notas. No meu novo ensino médio, mandei essa coisa de ficar em cima do muro para longe.
A primeira vez em que eu sentei perto dessa turma foi quando o João Batista nos chamou, eu e o Pedro Henrique, mais um novato, para conversar com o pessoal na hora do intervalo. Na aula, fui me chegando e vendo que era ali que seria meu posto. O João é aquele cara que fala com todo mundo porque todo mundo parece querer falar com ele. Transita em todos os grupos, até mesmo nos de outras séries, é conhecido de todos os professores e é o comediante da turma, além de ser garoto propaganda da escola.
O Ivo é a prova de que sentar atrás da sala não quer dizer que você não seja inteligente. Sempre com respostas certas a dizer, o cara se garantia em todas as aulas, falando dos assuntos com propriedade, mesmo que estivesse lá na última carteira e conversasse comigo um bocado da aula.
O Pedro é o cara dos esportes. Tem sempre uma história mirabolante para contar, seja ela rocambolesca ou muito engraçada e pratica uma porrada de artes marciais, ou seja, não brinque com ele. Brincadeira: ele é super tranqüilo, mesmo que, do nada, ele possa te querer para treinar uns golpes.
Nesse mundinho chegou, rápida, a Layne. Novata (como eu), a gente logo se enturmou, não só por conversarmos facilmente, mas para unirmos forças, já que uma escola nova sempre é um local hostil. Ela era a parte feminina dessas pessoas com quem passei as aulas e das que mais me aproximei.
Fiquei perto deles a semana inteira, ao ponto de a diretora da escola, uma das duas pessoas que sabiam da minha história de verdade, ficar impressionada do quanto a gente se entrosou ao grupo. E, nesse entrosamento, não só com eles mas o que me fez olhar toda a sala, eu vi uma adolescência que se mostrou diferente da minha em pontos bem interessantes.
O primeiro de todos é a tolerância desse pessoal ao diferente. Ao contrário do que eu percebia quando jovem, essa geração parece ter maior capacidade em aceitar as diferenças, mesmo quando não as entende. Ao invés de, simplesmente, serem preconceituosos, eles tentam trabalhar com esses conceitos de certo e errado na cabeça, procurando um ponto em comum que possa justificar a aproximação daqueles que não são iguaizinhos ao que todo mundo acredita ser o correto.
Não precisei mudar minha forma de falar, nem escolher assuntos banais. Conversávamos sobre tudo e, eu que sempre fui de falar demais, ainda puxava temas sem sentido, para manter o papo, como quando falei a história verídica de um amigo que chama a namorada de “chegado”. No mais, eu via muitas semelhanças. Via muitos professores jovens que parecem que esqueceram que tinham aquela idade há pouco tempo e não entendem os adolescentes.
Percebi o quanto é difícil ser professor, tendo de, ao mesmo tempo, manter a autoridade, mas fazendo concessões, o que, diante de uma platéia com aquela idade, é complicado, já que todos parecem querer coisas diferentes. Porém, vi outros muitos que conseguem prender a atenção simplesmente mostrando o bom das suas disciplinas e, por várias vezes, não se ouvia nada na sala a não ser a voz do professor, não porque ele havia brigado, mas porque ele fazia seu assunto tornar-se interessante.
Claro, chegou a hora da revelação. Mesmo com toda a diversão de voltar no tempo, o cerco já estava se fechando e foi preciso por um fim à essa loucura toda. Escolhemos a sexta-feira, especificamente a última aula e, precedidos por um discurso da diretora sobre uma suposta experiência que a turma estava participando, levantei e me apresentei.
“Pessoal, meu nome, como vocês sabem, é Luis Rafael. Só que eu sou conhecido como Rafael, mais especificamente, Rafael Campos, repórter do Jornal Meio Norte e que passou com vocês essa semana fazendo uma matéria para o For Teens”. Boquiabertos diz pouco sobre a reação deles. O medo que eu tive era de que a idéia não fosse absorvida da forma que pensava.
Não estava ali para vigiar ninguém, tampouco dar lições de moral. A idéia sempre foi saber como um adulto, a tão famigerada fase que todos querem chegar só para sentir saudade do que passou, iria se comportar diante de um grupo de adolescentes. A lição que eu tirei é que pouca gente percebe o quanto a inconscequência da idade é importante.
Apesar de a maioria das pessoas sempre preocupar-se com a opinião alheia em qualquer idade, é na adolescência que a gente pensa menos nas consequência dos nossos atos. Não é que eu queira levantas bandeiras de que todo mundo deve “liberar geral”, longe disso. Mas é sempre bom se perceber adulto, com todas as responsabilidades que a palavra carrega, sem perder a idéia de que nos mantemos jovens quando nos preocupamos em fazermos o que nos faz bem.
Na música do grupo Alphaville, Forever Young, eles dizem querer ser eternamente jovens. Eu percebi que posso sê-lo, quando, na semana passada, eu voltei no tempo e vi que, muito mais que diferenças, eu mantenho semelhanças com todas aquelas pessoas que estudaram comigo. E, como não poderia deixar de ser, eu ganhei amigos, na velocidade típica de quem tem a vida inteira pela frente.
19 fevereiro 2008
13 fevereiro 2008
[me against the music]
Me entristece: Sail on sailor – Beach Boys (ouvi depois de um velório)
Me alegra: Accidentally in love – Couting Crows
Diz muito sobre mim: Like a rolling stone – Bob Dylan
Me traz lembranças de um lugar: Declare Independence – Björk
Me faz ponderar a vida: Na estrada – Marisa Monte
Não gostaria de ouvir de novo: Metal
Tocaria no meu casamento: He needs me- Shelly Duvall (Quando ela estivesse entrando e eu lá no altar)
Tocaria no meu funeral: La valse d’Amelie – Yann Tiersen
Me faz lembrar meus amigos: You know I’m no good – Amy Winehouse
Gostava, não gosto mais: Carrada de coisa
Admito que gosto: m-flo (J pop)
Faria tudo para ouvi-la num show: Kids with Guns – Gorillaz
Parece com minha adolescência: Red Hot Chilli Peppers
Muitas pessoas gostam, eu não: Cordel do Fogo Encantado
Muitas pessoas (dizem que) não gostam, mas eu sim: Funk!
Gosto da letra: Pelas tabelas – Chico Buarque
Tem sempre no meu MP3: Gorillaz
Tema da vida atual: New Soul – Yael Naim
É melhor quando tocada no carro: Assassins – Muse
Gostaria de acordar: Anyone else but you – The Moldy Peaches
Gostaria de dormir: Like a friend – Pulp (mas só até ela esquentar e eu sair da cama)
Gosto e meus pais também: Vaca Profana – Caetano Veloso
Tema de um dos meus filmes favoritos: Iron Side – Quincy Jones (Beatrix Kiddo)
Me faz pensar no sol: Diamonds on inside – Ben Harper
Me faz pensar na noite: Rehab – Amy Winehouse
Me faz pensar em sexo: Down in Mexico – The Coasters
Me faz querer estar sozinho: The letter – Macy Gray
Me faz sorrir: Gretchen
Não é do meu tipo, mas eu gosto: I’d rather dance with you – Kings of Convenience
Posso cantar bem: O último romântico – Lulu Santos
Gosto porque é instrumental: Burgundy Blues – Breakestra
Me faz lembrar alguém que eu já quis: Câncer – China
Não foi lançada agora, mas eu adoro: Preta Pretinha – Novos Baianos
Para se cantar/ dançar bêbado: qualquer coisa
Queria ter a voz de: Dave Grohl
Queria ter a história de: Eu te amo, te amo, te amo – Roberto Carlos
08 fevereiro 2008
[regras]
A dúvida do dia é: devo mudar de amigos? Uma análise superficial das minhas relações fraternais indica que, em sua maioria, com visíveis exceções, meus amigos não parecem comigo. Mesmo que sejam compartilhados gostos musicais, literários e cinematográficos, estes esbarram no meu próprio jeito de ser, que dificilmente se encaixa no que todos eles acreditam.
Olhando ainda de forma superficial, parece que eles se entendem entre si, conseguem enxergar neles essa capacidade de perceberem o mundo ao redor com bem mais facilidade do que eu. Aliás, a afirmação está errada: acho que o lance é mais de ter medo do mundo do que entendê-lo. Não que eu seja o corajosão da história, lutando para reconstruir a moral e os bons costumes; nunca teria disposição para isso.
Eu apenas faço o que eu acho que seria bom pra mim. Não faço o certo, sendo esse certo o que o senso comum espera de um rapaz recém-formado e com uma família estruturada. Tento agir de forma a não machucar ninguém, não por altruísmo, mas é porque não sei lidar com o ódio direcionado a mim. Só que parece que ao agir da maneira que eu quero, acabo, ó ironia sem fim, atraindo o ódio alheio.
Eu também sei que tenho uma porrada de defeitos, novamente sob a ótica do meu amigo senso comum. Não sou de manter relações, não dou atenção a quem não me dá, só para ser cobrado como se eu tivesse essa necessidade. Falo puta, viado e buceta o tempo inteiro e o atentado ao pudor sempre foi meu crime predileto. Sou obeso, o que para mim é um saco, e completamente instintivo, de forma a pensar que sempre é melhor fazer e depois analisar o que deu. Me preocupo demais com quem não merece e sempre quero ser amado, isso é fato.
Mas daí a começar a ser taxado só porque eu faço o que você não acha certo, aí já é ir além do que eu aceito. Se você não gosta, me diga, simples. Em uma conversa civilizada, educada e concisa, a gente pode chegar a um consenso do que eu possa melhorar a partir da sua visão de mundo. Porém, sempre é bom ter em mente que o que te faz não é minha matéria prima: somos produtos de um mesmo ato, entretanto o molde do meu caráter é, na falta de palavra melhor, único.
Espero sempre que os meus amigos tenham o que me dizer, até porque eu sou um solitário dependente e preciso, de vez em quando, de alguém me balançando pra me mostrar o mundo além dos meus postais, sob pena de ficar sem caminho. Só que tem de vir com carinho, cuidado, tranqüilidade e não colocando bandeiras de bom comportamento, como se eu tivesse roubado, espancada ou estuprado alguém.
Acho que não é preciso mudar de amigos. Acho que eu não preciso mudar o meu jeito. O que realmente deve ser feito é uma filtragem do que me dizem, ao invés de tentar fazer da minha vida um modelo de garantia que ninguém terá raiva de mim. Vão ter, vários têm. Com razões ou sem elas, unanimidades também são burras e é bom que eu comece a perceber que eu posso habitar o mesmo mundo de quem quer todos seguindo a cartilha da TFP.
25 janeiro 2008
[guess what? i'm pregnant]
Há uma cena em Juno (EUA, 2007) que consegue captar bem a sensação que possa existir quando se tem 16 anos e está grávida: ao contar aos seus pais da situação e ser indagada sobre o fato de que ela parecia o tipo de menina que saberia o momento ideal para o sexo, a adolescente diz, sem nenhum ar melancólico: “Eu não sei muito bem que tipo de garota eu sou".
Mas o certo é que, mesmo sem saber disso, Juno McGuff é mais do que outra adolescente grávida. E é na força da interpretação de Ellen Page que há o convencimento de que, por baixo de um enredo comum, se encontra a história de uma menina que tentou, simplesmente, continuar sendo o que era, longe de responsabilidades que ela tinha consciência, mesmo com a pouca idade, de que não seria capaz de lidar.
Interpretação aqui é falta de palavra melhor. A atriz de 20 anos consegue encarnar tão bem o enfado e empáfia de uma garota de 16 anos que, caso eu não a conhecesse de outros (bons) trabalhos, acharia que ela realmente foi colocada fazendo o papel de si mesma. Na trama, como dito, ela se descobre grávida de Paulie Bleeker, seu melhor amigo e papel de Michael Cera, que está começando a se especializar em nerds engraçados, mesmo que aqui ele seja esportista.
Ela decide que não deve abortar e depois da dica de uma amiga sobre casais que procuram a adoção de crianças por não poderem ter as próprias e colocam anúncios em cadernos de descontos, ela conhece Vanessa e Mark Loring (Jennifer Garner e Jason Bateman). Limpinhos, ricos, aparência de felizes que se espalham por fotos pela casa, eles parecem ser os pais perfeitos. A sensação que Vanessa causa, com sua cara afoita, desejando o filho de Juno, dizendo que nasceu para ser mãe, é de dar arrepios, mesmo que eu tenho ficado em dúvidas sobre a atuação da Jennifer (forçada, agoniante, verdadeira?).
Juno é uma história comum, se formos pensar sob a ótica da gravidez na adolescência. Entretanto, a forma com que ela lida com a situação, deixando claro, desde o momento em que descobre o fato que ela não quer ter aquele filho cria um paradoxo relacionado com a pouca idade da garota: ela, ao mesmo tempo em que não soube ter cuidados no momento em que transou, é quem possui a maturidade de saber que não tem condições de criar a criança.
O roteiro, assinado pela novata Diablo Cody, é outro que consegue ir além do que pode ser esperado. Se a interpretação de Ellen pode ser espetacular, as tiradas irônicas que ela diz são grande parte dessa possibilidade de atuar tão bem. Jason Reitman, o diretor, tece outra pérola. Depois do ótimo “Obrigado por fumar”, de 2005, ele faz mais um filme que se segura no carisma de seu personagem principal e, com um detalhe imprescindível, escolhendo uma trilha sonora belíssima, que se integra como parte essencial do filme.
O que torna Juno diferente é a capacidade de ser bem mais do que um filme em que uma menina tem que encarar responsabilidades que não deveriam ser suas. Ele não quer fazer adolescentes criarem consciência sexual (benza deus), nem levantar bandeiras do tipo “não aborte, dê seu filho”. Só quer mostrar uma garota que queria continuar vivendo da forma que ela achava certo, mesmo que ela nem mesmo soubesse o que era esse certo que formava seu modelo de garota.
23 janeiro 2008
[alardeando]
E lá estava o vocalista da banda dizendo, em meio a nomes que não se encontravam, que a gente precisa mesmo é amar para, duas músicas depois, eu vê-lo dançando e dizendo que ela tinha mesmo era que pegar um fila bem grande. Junto aos acordes, eu amanheci e anoiteci, nessa minha guitarra desafinada que é meu entendimento da Tchecoslováquia.
E vou seguindo assim. Dias e noites de (in) constância que podem surgir em um sorriso bobo que se dá ou em uma raiva estranha de ficar sozinho, que eu vou, diletantemente (mas com o afinco dos paradoxos), absorvendo. Aliás, será isso mesmo? Absorve-se conhecimento e eu ainda não aprendi como parar de sentir isso, então, acho que seria melhor não pensar muito em esponjas. Até porque ter um rosto com duas metades diferentes é algo que não se segura: não há músculos que interpretem essa idéia.
Minha cara fica ou pra cima ou pra baixo e quando eu fico nessa dicotomia, dá uma câimbra, pior do que quando eu beijo dentro d’água. Prefiro a constância da liberdade, até porque eu nunca concordei com o Jobim. Mesmo sendo uma letra daquelas que se bastam, acho que conseguiria ser feliz sozinho. Também não é uma ode à liberdade, se pensarmos que eu gosto das chegadas surpresas quando corro para apagar tudo o que possa ser denúncia.
É mais como uma forma de extirpar a imensidão, porque algo que não explico só pode ser enorme. O meu “sozinho” é estar sem necessidade de aproximação, de não precisar ver um filme pra lembrar nem fazer associações musicais que me causam pensamentos lunáticos de bicicletas para duas pessoas.
O que eu espero de ser livre é acordar para o dia, dormir em meio à noite, em uma certeza de existência dessa divisão que vai me fazer pensar que eu tenho conserto. Tudo vai ficando azeitado junto; as peças desencaixadas pelo desejo (que não é sexual, ok?) vão se aprumando e eu vou poder sentir, de novo, que um bom cinema comigo mesmo é o melhor programa do meu domingo à tarde.
21 janeiro 2008
[mais canetas e cadernos]
Meu ensino médio pode ser resumido em uma palavra: mudança. De um moleque super inseguro e dependente do ninho familiar, tive de me acostumar a idéia de solidão estudantil, morando em um pensionato cheio de velhos e pessoas com doenças estranhas e, claro, tendo 15 anos e entrando em uma escola nova.
Fui parar no Anglo Diferencial, o antro dos estudantes menos ricos que vinham do interior. O 1º C não era a sala dos alunos da roça, nem a dos mais inteligentes, nem as dos mais bagunceiros. Aliás, nunca saquei essas divisões no ano em que fiquei lá. O certo é que morava há uma rua do colégio e, quando cheguei, o Piauí tava no horário de verão e quando eu saía de casa ainda estava escuro (?).
Escola nova, aquela coisa de ficar olhando e analisando. Mas, falador como eu sempre fui, logo quis me entrosar. Fiquei no meio termo. Não me envolvia somente com os nerds e nem só com a galera do fundão e sentava no meio da sala justamente por conta disso. Fiz meu primeiro melhor amigo da minha lista anual de melhores amigos, o Luilson, que era meu vizinho e um mala de marca maior (o que eu achava massa demais). Aliás, conhecê-lo me lembrar de uma coincidência.
Ele, no ano seguinte, em que me mandei de Teresina, acabou ficando muito amigo da Natália, que hoje é super chegada. Também fiquei amigo da Neila, que em 2001 namorou o Pedro, o mesmo que em 2005 viria a se tornar meu melhor amigo. Sim, Teresina é um ovo. Voltando à escola, o Anglo era estranho. Paredes de gesso, espaço minúsculo e bem mais puxado do que meu costume escolar.
As paredes, nós furávamos para passarmos bilhetes entre as salas, o espaço ajudava a gente a conversar mais e o ritmo eu me adaptei, tanto que nem fiquei de prova final (só em trigonometria, mas aí já era querer demais). O que eu não entendia mesmo era a dinâmica adolescente. Não tive muita vida social no ensino médio, só quando voltava para Picos. Não saía muito, no máximo ia ver filme com o Luilson, o que não conta como saída (lembro bem que a gente viu “Todo mundo em pânico” e ficamos uns três meses falando o tempo todo “What’s uuuuuuuuuup?”).
Não mantive nenhum relacionamento, só pegações mesmo, inclusive com uma mocinha do Anglo Mirim, como se chamava na época, que era a coisa mais linda do mundo. Ainda era apaixonado pela minha ex e chorava feito besta porque ela não me queria. Descobri o mundo mágico de passar bilhetes na sala de aula e comecei a usar mais de uma caneta para fazer minhas anotações, mania que fui perder, ainda bem, no ano seguinte.
Não sobrou quase nada do Anglo (se bem que teve o dia em que as paredes balançaram e todos achamos que íamos morrer, mas foi só alarde). Apesar de ainda quando eu vejo certas (duas ou três) pessoas nós nos falamos com um oi, as amizades se perderam por conta que eu não quis mais ficar em Teresina. Durante as férias, minha tia que mora em João Pessoa perguntou se eu não queria morar lá com ela.
- Posso pai?
- Se você quiser.
E lá ia eu para outra cidade em um ano. Nunca vou esquecer meu olhar para Jampa. Cheguei à noite, nem pude ir logo à praia, com certeza um dos pontos que mais me fizeram mudar. A praia era meu refúgio. Fiquei bem mais sozinho em João Pessoa do que era em Teresina, mesmo que eu não tenha nenhuma mágoa do tempo em que passei lá. Mas eu era mesmo solitário e ficar sentado na praia ou mesmo caminhar todo o domingo de manhã como eu fazia era de uma necessidade tremenda.
Fui parar no Colégio Geo, esse sim o antro dos bem nascidos da capital paraibana. Era filho de juiz, desembargador, super médicos, políticos, até donos de redes de motéis que iam para a escola em carrões amarelos e chamativos (tanto que o bedel uma vez entrou na sala perguntando quem queria ir para a Disney – DE NOVO!). Cheguei ao 2º D, também não dividido em grupos. Os paraibanos são bem mais difíceis de conquistar que os piauienses. Não sei se pela distância de onde eu vinha, foi complicado o entrosamento, mas nada que me abalasse.
Daí fiquei amigo do Diogo. Esse era mais mala ainda do que o Luilson, do tipo que uma vez levou uma arma de fogo para a escola porque iria vendê-la para um cara lá dentro mesmo. MEDO! Mas ele era gente boa demais, músico e tal; tinha uma namorada de três anos e meio com a qual não mantinha relações sexuais e eu achava super estranho, mas não comentava nada. Também foi a época da Tatiane, uma coisinha pequena e fofa que me ajudou um bocado a gostar mais da cidade. Ela veio a se tornar uma amiga incrível, mesmo que hoje a gente esteja bem distante (o que, aliás, é regra na minha vida).
Meu segundo ano foi meio que um tempo de adaptação. Botei na cabeça de ficar mesmo em João Pessoa para o terceiro ano e ia seguindo a maré, conhecendo mais gente. Foi quando eu descobri o prazer de ir ao cinema sozinho, que achei Gorillaz e combinava as músicas do primeiro cd com os locais da Terra Média e, meu deus, Harry Potter adentrou na minha existência.
Então veio o terceiro ano e eu tive a melhor época escolar da minha vida. O 3º G já começava torto quando, por falta de salas disponíveis, fomos colocados no auditório do Geo para assistirmos aula. A porta, de vidro, tinha cortinas nas quais os tarados da sala (nos quais eu não me incluía, claro) enrolavam as meninas e meio que faziam um rocambole com elas. As meninas, por sinal, eram o motor da bagunça. Lia, Larissa, Priscilla, Natália, Lucille, Roberta, Tati, Fernanda (mesmo dormindo quase 70% das aulas)... Meo, essas moças eram um terror e, claro, sempre faziam carinha de santas quando eram reclamadas.
Foram elas que ficaram bêbadas no Bregareia e foram para a aula fedendo a cachaça. Foram elas que davam em cima de professores, como Tranquilino e um de história que não lembro mais o nome. Elas que faziam um merdinha de literatura perder as estribeiras e começar a espumar pela boca (cena patética e reincidente). Eu acordava satisfeito em ir para a escola porque não existia uma manhã sem que a gente risse mermo de muito.
Tinham ainda os tipos. Jesus, uma moça que sempre ia com o cabelo armado e que, não sei, deram para colocar o Nazareno como apelido dela. Tínhamos Miss Patos, que hoje é amiga da galera, mas antes era a moça gatinha que ninguém queria por perto. Doug, que ganhava musiquinha cada vez que ia ao banheiro. São Jorge, que era auto-explicativo quando você sabia da coisinha que ele havia pegado. Palhaço, nome que gritávamos a cada momento em que ele se mostrava. Bareia, que nunca entendi o apelido. A Esquisitinha, que punha óculos escuros na hora do intervalo e colocava a camisa de modo a mostrar a bunda (e que ganhou um montinho no fim do ano só dela, depois de olhar todos ávida por participar). Pig, que era loirinha e rosada igual a personagem do Muppets Babies. Raimunda, feia de cara e boa de bunda. Paula Barata, simplesmente porque ela resolveu levar uma barata de plástico para a escola. Abelardo, que tinha um nome que era apelido.
Mas três situações são exemplos-mor do quando a gente se divertia. A primeira eram os montinhos. Outro momento para os tarados bulinarem as meninas, os montinhos viraram marca registrada da nossa turma, que os fazia em cada intervalo de aula. Tanto fizemos que, em um belo dia, quebramos a porta de vidro da sala e nunca vou esquecer a cara de terror de Priscilla, a dona do pé que chutou o vidro, levantando a mão para assumir a culpa.
Depois tínhamos a música bandeira branca, aquela marchinha de carnaval, que era entoada cada vez que recebíamos algum papel de professores e isso acontecia muuuuuuito no Geo. E, claro, o churrascão do Natalião, uma cachaçada que fizemos quando os pais de Natália viajaram e rendeu muitos ficas, vômitos pela casa inteira, mulheres fazendo strip na mesa, gente se jogando no meio do asfalto e outras coisas que não vou me lembrar.
Foi quando eu fiquei próximo de Lia, a garota que me fez ver que ser eu mesmo era bem mais interessante do que tentar não sê-lo e ela nem tem noção do quanto isso é elogioso da minha parte e o quanto que eu sinto falta do que nós éramos juntos. Foi quando eu fiquei com Tatiane e foi bom demais. Foi quando teve a aula da saudade em que todo mundo chorava e Ticiano e Rafaela ficaram a primeira e vez e, agorinha mesmo, vi no orkut deles que agora são marido e mulher. O ano acabou com a certeza de que não deveria mais ficar ali em João Pessoa. Não passei no vestibular, fiz cursinho, entrei na UFPI e tô me formando... Mesmo com gente da minha turma já casando, nem parece que passou tanto tempo...
19 janeiro 2008
[caneta e caderno]
[idéia da clarinha, que fez bem melhor do que eu]
Na quinta série eu mudei de uma escola em que vinha estudando desde o maternal para outra que era somente uma idéia distante na minha cabeça infantil. O que eu achava mais legal era o fato de que agora eu teria cadernos com pautas, escreveria de caneta e iria usar uma calça para ir à aula ao invés de calção.
Descobri, estarrecido, que existem números menores do que zero, que história era a matéria que eu mais gostava e que dizer que se namora é bem diferente de namorar. Dois trabalhos de ciências não podem ser esquecidos: o primeiro, quando a professora pediu que levássemos um achocolatado para a aula e tomássemos inteiro, sugando a caixinha para comprovar uma idéia dela.
O interessante é que isso me deu uma dor de barriga terrível, fazendo com que meu ódio àquela mulher ganhasse contornos de maldade, mesmo que, com 11 anos, a minha maldade era a mesma de um coelho. A outra foi quando confeccionamos uma biruta, aquele troço que marca a direção do vento. A gente foi até uma metalúrgica para que fosse feita a base, contratamos uma costureira para montá-la (com um pano xadrez, vermelho com branco) e gastamos tanto quanto um garoto daquela idade poderia gastar.
Bem, valeu um 10 e até hoje a biruta está na escola servindo de exemplo para as massas que continuam sendo formadas no Colégio das Irmãs de Picos. Na sexta eu comecei a estudar de manhã, depois de cinco anos à tarde. Lembro bem que foi quando eu iniciei minha paixonite pela minha "ex-namorada", sendo que ela já não andava muito aí para meus apelos, mas as lembranças dessa época são muitos poucas, acho que porque eu não era uma pessoa muito feliz.
Minha felicidade era ficar em casa, paparicando a barriga da minha mãe, que crescia e me fazia cada vez mais ansioso. Da escola em si eu não guardo lembranças fortes, nem mesmo ruins, o que é vantajoso porque, realmente, eu odiava minha vida. A sétima série seguiu quase da mesma forma. Tem um lance que eu me lembro bem que foi quando eu fui expulso de sala porque estava lendo "O mundo de Sofia" na aula de matemática.
Minha mãe, que trabalhava na escola em que eu era aluno, me viu no local onde ficavam os expulsos e me perguntou o que havia acontecido. Quando eu disse que o problema era com o livro, ela ficou meio sem argumentos, já que achava o máximo eu me interessar por literatura, algo que acontecia desde meus nove anos. Nem brigou. Meu irmão havia nascido, então a escola não era nada interessante quando se tinha a pessoa mais perfeita do mundo em sua casa, todos os dias.
Na oitava, minha vida mudou. Tenho muitas lembranças desse ano, porque eu fui muito feliz na minha sala, com gente legal, histórias legais, muita conversa e risada. Meu melhor amigo havia quase sido reprovado em outra escola e voltávamos a estudar juntos depois de três anos e eu meio que fiquei popular (não que isso fosse interessante, mas ajuda demais quando se tem 14 anos). Lembro que ele tinha (tem) grana e a gente organizou o que chamamos de "Festão do PJ". Ele era o PJ e a festa era do aniversário dele e foi mesmo uma super festa para os padrões "só cerveja escondido" que tínhamos à época.
O grupo era bem legal nesse tempo. Eu, PJ, Alisson (que era o mais careta e hoje é um dos mais malas) e Fábio (um dos caras mais inteligentes que eu conheci e a única pessoa que entendia minhas ironias, hohoho) éramos os que andávamos mais juntos, principalmente porque todos eles era amigos de infância, por conta de que nossos pais também eram amigos.
A gente sempre inventava de sair à tarde, nas casas uns dos outros, com churrascos de pão, um bocado de filmes, tomando banho de piscina e até mermo inventando trilhas de bicicleta. Aliás, bicicleta era "O" meio de transporte. Com a minha Mountain Bike de 18 marchas, eu rodava Picos inteira, e ainda levava alguém às vezes. Fiquei com meninas mais velhas, de séries mais adiantadas que a minha, o que foi trágico porque eu fiquei doidinho por ela e ela só queria diversão (chora, emo!).
Essa também foi a época dos grandes shows lá em Picos. Lembro que fui para Companhia do Pagode, Terra Samba, Zezé (:~~), e Zé Ramalho (de quem eu gosto até hoje). Lembro bem que tinha sido expulso de sala no dia anterior à um super show. Chegando em casa, minha mãe, que sempre era avisada quando o filhinho se envolvia com maloqueiragens, disse que se isso acontecesse de novo, lá estava eu perdendo a chance de ver o artista famoso. No dia seguinte, sou tirado de sala logo na primeira aula, pelo professor de Geometria que era gay (casado, com filho, mas quem se importa, né?). Me escondi na salinha dos expulsos, de luz apagada ainda, e fiquei esperando tudo acabar. Esforço compensado: à noite fui ver o Daniel ("Ai eu adoro amar vocêêê!!!").
Ganhei uma festa de aniversário surpresa, no mesmo dia em que fazíamos nosso churrasco de despedida do ensino fundamental mas, nesse tempo, eu só pensava em me mudar de Picos para a capital, ganhar a vida longe da roça...
17 janeiro 2008
[duas faces, mesma vontade]
08 janeiro 2008
[notas de ano novo]
>> Monografias são invenções de Satanás para que universitários sonhadores e utópicos percebam que quatro anos aprendendo a fazer matérias serão usados contra você quando seu orientador (que percebeu que assim o era meio tarde demais) diz que seu texto, que deveria ser acadêmico, parece, justamente, com uma matéria.
>> Amigos não são pessoas legais só porque eles são seus amigos. Amigos são pessoas normais, do mesmo jeito que você. Mas ter raiva de amigos é algo extremamente ruim e danoso para qualquer pessoa que os/as tenha. Na dúvida, não brigue com eles. Ou, melhor, não dê conselhos que possam se voltar contra você.
>> Quando você trabalha, de verdade verdade mesmo, o pulo que existe entre dois anos, chamado carinhosamente de reveillon, perde muito da representatividade. Não existe tempo para você pensar que já é um ano novo se a sua vida, pelo menos profissional, está do mesmo jeito. E é um saco pensar que, caso você não faça alguma coisa, ela pode manter-se dessa mesma forma indefinidamente.
>> 2008 está em janeiro, mas eu me sinto já meio desesperado. Até então, todos os anos eram permeados por uma sequencia: 1ª série, 2ª série, universidade (sou superdotado, ya know?). Agora, eu me formo e o que eu vou fazer? Continuar fazendo o que eu faço? Acordar tarde, trabalhar, chegar em casa e ficar na internet até de madrugada? Isso vai me levar pra onde? É, cara... crescer cada vez mais se torna difícil.
>> Serei uma pessoa cinematograficamente feliz em 2008. Batman, HP, Homem de Ferro, Hulk, Goku, Michel Gondry, P. T. Anderson, Speed Racer, Guilermo del Toro, Spielberg e Indi, Pixar, Ellen Page junto do Michael Cera, Depp junto de Burton, Scorsese junto de Rooling Stones, monstros em Nova York, Fernando Meireles, Sacha Baron Cohen...
>> O mais engraçado é que não tô esperando nada desse ano... vai ver esse será o motivo que o tornará bom (percebam que eu me contradigo e ainda faço troça)...
05 janeiro 2008
[who cares?]
Ok... seus problemas são grandes, enormes, gigantescos. Maiores até que a sua capacidade de perceber quando querem teu bem. Normal, normal... quantas vezes a justificativa de ‘entende o jeito’ das pessoas já me foi pedida como entendimento? Inúmeras. Gosto? Nem um pouco. Nada que você tiver como algo natural seu precisa ser um modelo de aceitação que me faça gostar de você apesar de tudo. Todo mundo tem defeitos e eu acho que deva até ter graça nisso.
Não porque seria ruim um mundo de perfeitinhos, até que eu não acharia má idéia. Chegarmos, todos os seres humanos, a um consenso de tudo o que seria belo e aceitável, com todos usando xícaras educadamente ou dizendo um simples ‘bom dia’ seria, para mim, algo extremamente aceitável, mesmo que as idéias divergissem. Pensar diferente de alguém nunca seria motivo para que ela fosse escrota comigo.
Todos seriam legais uns com os outros. Mas, como nem eu mesmo faço isso, claro, acho engraçado que os defeitos, por vezes, sejam tão facilmente esquecidos. Você convive com alguém e descobre que o que ela tem de bom supera tão facilmente o que não que releva como algo que te faz mal. Mas, ó ironia, sempre chega um dia que tudo aquilo que sempre foi relevado se volta contra você e se dá a percepção de que, muito mais do que vontade de ver que todos estão bem, existe egoísmo em qualquer relação entre duas pessoas.
Egoísmo. Nunca, jamais, achei esse sentimento algo ruim. Tá, serei um pouco demagógico aqui, mas quando você não o sente no intuito de fazer mal à alguém, qual o problema? Ser egoísta sem pensar no mal das pessoas é pensar em si, cuidar de si e nem vejo nada de errado nisso. Por isso que, apesar de eu achar que perfeitinhos seriam algo belo para o mundo, aceito os egoístas. Aceito quem pensa em si, quem acha que sempre é bom ser mais importante do que os outros.
Sentimentos alheios? Who cares?
27 dezembro 2007
[para 2008]
22 dezembro 2007
[do ano que se acaba - 3]
18 dezembro 2007
[do ano que se acaba - 2]
Eu viajei muito esse ano, principalmente para os meus padrões. Logo no comecinho do ano, em março, ganhei de presente uma viagem para São Paulo. Afinal, mesmo que fosse à trabalho, nada me convence que viajar com tudo de graça pode ser trabalhoso de alguma forma.
Viagem rápida, de apenas um dia, mas suficiente para eu perceber o pandemônio organizado em que a cidade se assenta. Gente, muita gente, de todos os tipos e eu, errante pela Avenida Paulista, olhando para tudo como um bobo enamorado. Adorei São Paulo, mesmo decidindo que sua frieza é algo assustador.
Depois, outro rito de passagem. Na Semana Santa segui rumo à Fortaleza (após um acidente de carro que me privou forevá de dirigir tranquilamente na chuva), para meu último encontro de estudantes. De novo, lá estava eu, no meio de um bando de gente jovem, bonita, legal (ui), discutindo (ou não) essa tal comunicação que a gente tanto quer mudar.
Meu último Erecom me levou a perceber que, não adianta, a vida universitária é uma época curta demais. Tem gente demais parecida com você no mundo, na ótica do curso que a gente escolhe servindo como filtro e é nos encontros que isso aparece de forma mais real.
Só num Erecom da vida você pode retornar para o alojamento dentro do carro que levou a comida, conversando com uma moça super interessante do Rio Grande do Norte, enquanto come sua quentinha com a mão e segura a porta do carro, que é presa com uma corda. Só em um encontro você fica em frente ao palco dançando coreografias sem sentido, simplesmente porque é bom.
Só num encontro de estudantes de comunicação você passeia na rua de saia e não vê problema algum nos olhares diversos das pessoas que acompanham esse seu fetiche político. E só um encontro é capaz de fazer com que percebamos o quanto nosso curso é feito de pessoas e não de conteúdos, sendo elas, antes de tudo, a razão que deve te fazer seguir em frente (já disse que o texto pede um tom solene).
Fortaleza fechou bem essa minha vida de metido a estudante engajado. Apesar de ter me aventurado pelo movimento estudantil, percebi que tenho mais jeito para a ação e o plano das idéias ainda é o que predomina. Se esse não foi o motivo principal do meu abandono da organização do próximo encontro, certeza foi um bem forte.
Depois, mais pro fim do ano, voltei à Fortaleza, dessa vez em uma viagem em família, algo que não acontecia há muito tempo. Sempre tinha um problema que impedia de todos possuírem tempo, mas dessa vez tudo deu certinho. E, em uma viagem em que eu fiz praticamente nada, me diverti como há muito eu não conseguia.
O dia inteiro na praia, piscina ao chegar, comida de muito, rede e uma brisa que não cessava um instante. Três dias de sossego intenso, na companhia de Eduardo e cia. Acho que era preparação. O mesmo mês de outubro me levou de volta a Sampa, só que dessa vez nada de trabalho. Num golpe da sorte que ainda hoje eu fico sem acreditar, eu fui para o Tim Festival. Bom, dele eu já falei e muito, em um texto anterior. Deixo para continuar mais tarde... ainda tem muita coisa desse anozinho tinhoso.