Eu encarei isso como verdade pra tentar um meio mais simples de, racionalmente, justificar os fatos que aconteceram. Dizem que o sete é o número da perfeição. Sete dias da semana, sete pecados capitais, sete horcruxes, sete virtudes, sete sacramentos. Apesar de aludir ao que seria perfeito, essa é uma característica enfadonha demais para ser colocado em alguém.
Então, sete passa a ser representativo de mudanças, pelo menos pra mim. Na busca incessante (e, ainda bem que assim o é) de se conseguir encontrar o que se faz perfeito, 2007 traz a mudança como algo necessário para que consigamos nos aproximar do que queremos ser. Você fica diferente e, como toda experiência em que o tempo te caleja, ela te faz sim melhor.
Lembro de 1997. Em dezembro do ano anterior, Luis Eduardo havia nascido. Praticamente em 1997. Não houve mudança maior na vida desde então. Em 1987, Camila, minha irmã nasceu e, apesar de eu não ter lembranças disso, foi uma mudança que também me afetou pra sempre. Estou sendo bem solene, mas é porque acho que o texto pede.
Tenho medo da repercussão que 2007 trará. Eu amei demais nesse ano, principalmente de forma velada. Daquelas de olhar e não ter, de ter de se contentar com a imaginação, de devaneios sem sentido porque eram mesmo. Chorei bem menos do que eu queria, menos até que nos anos anteriores, mas a dor enclausurada nunca esteve tão grande.
Meu pai fez palestras no sudeste e, mesmo que ela não tenha sido no mainstream Rio/São Paulo, foi um vislumbre que ele ainda vai bem mais longe. Minha mãe tomou com mais vontade as rédeas da sua vida, mesmo que ainda ela se sinta muito dependente da nossa felicidade pra basear a dela. Minha irmã entrou na faculdade e vai, de pouco a pouco, se encontrando no curso que escolheu. Eduardo cresceu, mais rápido do que todos os anos anteriores. Cada vez mais chega perto o dia em que beijá-lo durante horas seguidas não vai ser mais possível.
Trabalhei, desde janeiro, num jornal. Vi tudo que eu sempre esperava ver em relações de trabalho. Amigos de verdade, inimigos idem, puxação de saco e de tapete em várias intensidades. Saquei o quanto as pessoas têm necessidade de aparecer, mas falam merda e ainda ficam bem na fita porque o que conta é ter atitude e não inteligência. Vi que fazer jornalismo é bem mais legal do que parece, mas que só dá pra fazer se gostar. Caso contrário, bitole-se em concursos públicos e tenha vidinha de rico sem perspectiva de prazer no trabalho.
Tô me formando, o que, de cara, já seria a mudança significativa do ano. Principalmente porque ela não implica só que eu agora serei diplomado, isso é muito pouco. Não sinto mais a UFPI como minha casa já tem um bom tempo. Aliás, andar pelos corredores me dá agora uma sensação de despertencimento. Parece que eu não deveria estar ali, sinto isso no olhar das pessoas. Como se houvesse uma voz dizendo "Você não é daqui".
Sensação terrível. De um lugar que eu praticamente morei, passando, às vezes, de oito da manhã às dez da noite, que eu trabalhei pra melhorar, corri, enchi o meu saco, dos outros, aprendi o que eu agora sei fazer... Local em que a maior parte de mim eu consegui aceitar e, agora, eu vou embora com a estranha noção de que é isso que ela quer. A universidade se move de alunos novos, entrando e saindo daqueles corredores e eu agora estou velho demais pra isso.
Quem sabe eu volte. Por mim, não teria nem mesmo uma foto em placa de formatura, acho isso uma nostalgia demente. Mas você acaba indo com a maré, pra não ter que ouvir que quer ser diferente, quando na verdade nem é. Só quero ser eu mesmo. Mas, se já foi uma luta convencer a minha própria mãe de que não queria festa de formatura, seria demais para ela não me ver numa fotinha de placa. Vai pra ela esse esforço.
Aliás, esse ano eu fiz muitos esforços. Primeiro, claro, o de amar de forma velada, esse tão extenuante que ainda me atrasa. Também tive um trabalho danado para entender o quanto minha mãe me ama mais enquanto eu fico velho. As ligações se tornaram mais freqüentes, a necessidade em me fazer perceber o quanto ela sofre com a distância também. É engraçado. Não to reclamando nem nada. Mas eu pensei que sete (!) anos morando fora a tivessem feito se acostumar.
[continua]