11 junho 2007

[um não sei bem o que]


A gente fala muito das mazelas do jornalismo, da falta de apuro que muitos de nós temos em relação às matérias, da nossa preguiça em ouvir todos os lados e de condicionadores de ar inexistentes, que bloqueiam nosso pensamento no que colocar de bom para o leitor/ espectador.


Mas, de vez em quando, parece que o savoir faire jornalístico sai de dentro das redações e é quando conseguimos perceber que, muito menos que um número estatístico, como disse uma vez o repórter Nelson Blecher, o leitor/ espectador sabe que é dele que partem as notícias e a ele, como parte de toda uma sociedade, é que o jornal serve.


Bom, mas essa eloqüência toda é pra quê? Há duas semanas atrás, numa sexta-feira, o pior dos dias para se fazer matéria, um barulho infernal de buzinas tomou conta da redação. Nesses tempos de terrorismo, a gente pensa logo nem atentado, osama e coisa e tal. Bom, não eram terroristas, mas era um atentado.


Na madrugada anterior, um mototaxista havia sido assassinado, com dois tiros nas costas. As buzinas eram das motos de seus companheiros, que exigiam um tempo no programa Ronda para relatarem sua revolta com a falta de segurança para o trabalho deles.


A questão aqui não é discutir méritos jornalísticos do programa. Sei muito bem a que tipo de informação ele se preza e, principalmente, que ele tem muito pouco do que a gente deduz ser jornalismo (Pra quem não conhece, digamos que se o programa fosse espremido, sairia sangue e mais um bando de coisas).


O mérito fica por conta da percepção que esses mototaxistas tiveram do poder da imagem perante àqueles que deveriam cuidar dessa suposta segurança deles. Ali, durante o programa, o de maior audiência do estado, eles poderiam se fazer ouvir e o fizeram, de forma extrema.

Além do buzinaço, as trocentas motos e a revolta que por si só já detinha combustão espontânea, o corpo do mototaxista morto, com terno de madeira, terno de pano, algodão no nariz e braços cruzados foi velado na entrada do Sistema Meio Norte de Comunicação.


Claro que o Beto Rego, apresentador do programa, se refestelou, usando e abusando de imagens do corpo, gritando para as autoridades perceberem o quanto aquilo era um disparate, enquanto a mãe do morto pedia um abraço ao palhaço Chupetinha, uma espécie de bobo da corte que causa riso através da pena que causa.


Mas eu fiquei deslumbrado por perceber que, realmente, por mais viciado, partidário, mal acabado e jovem, ainda tem pessoas que acreditam que o jornalismo piauiense possa servir de algum modo. E se pareço utópico, não é porque ainda estou na academia e faço texto estudantil.


É porque, simplesmente, foi isso que eu senti. E foi bom...

8 comentários:

maria clara disse...

não é utópico...
foi bonito o que tu sentiu.

=*

Anônimo disse...

hum.... legal por aki.

essa dos mototaxistas sempre vai ficar na minha cabeça

Anônimo disse...

o que esse episódio tem de grotesco ele tem de...De?

Eu ainda não sei expressar o que eu achei disso, além de dizer que foi muito bizarro...

Acho que tem um tom profético, sei lá. Pessoas carregando caixão em frente a um meio de comunicação, que loucura. Isso da um tema para monografia, ou qualquer pesquisa...

Acho que dentre as coisas que eu sinto, há uma ponta de orgulho. Longe de ser pelo fato de ter um programa como o Ronda, mas de ver as pessoas, mesmo que ingenuamente, buscando um porta-voz..Teoriacamente um porta-voz, eu quis dizer...

Ainda fico confuso, sobre esse episódio..

O nome do blog é inspirado no filme "Bonequinha de Luxo" disse...

utópico? ainda bem... sem querer ser clichê, mas "you can say I am a dreamer, but I'm not the only one"... sim.. e o que tu fazia lanchando com a Vanessa,hein? não trabalha não,é?? bjuss!!

oseguinte disse...

e a gente se perde no meio dessa confusao televisiva..


deusmelivre.:P


;*

VALHA!!! disse...

Eu tenho medo. É sério. Não obstante as pessoas me acharem fresca, idiota, patricinha, sei lá. Diante de uma manifestação dessas eu ficaria estupefata e não colocaria minha cara pra fora, juro. Pode até ser covardia, mas a fúria do ser humano, às vezes, procura qualquer coisa [ou pessoa] na qual possa desabafar sua revolta. Se é que você me entende. Não sei lidar com as massas. Serei jornalista de celebridades. ;PPP Ô coitada!

Lucy, disse...

doidôo

mudei meu layout!

=D

Anônimo disse...

esse mundo do jornalismo me deixa com uma puta vontade de fazer parte dele!