06 junho 2007

[running]

Um garoto de 14 anos que namora um esquizofrênico de 35, vive na casa do psicanalista da mãe que sofre de um bloqueio criativo eterno e que tem de agüentar as pseudo-freudianidades desse novo pai adotivo e a crescente insanidade da tal mãe que ele ama.

À primeira olhada, eu pensei que ia rir muito de Running with Scissors. Um amigo havia baixado esse filme, do nada, e resolvi assisti-lo. Mas, mesmo com algumas risadas, não foi isso que ficou. Sabe aqueles filmes que você não sabe se gosta ou desgosta, apenas fica com a sensação que ele te deixou algo de bom?

Pois é esse. Augusten (Joseph Cross) tem uma mãe atormentada por imaginar que tudo na sua vida é motivo para que seu bloqueio como escritora aconteça. Depois de começar a se consultar com o Dr. Finch (Brian Cox), um psicanalista tão louco como seus pacientes, Deirdre (Annete Benning), mãe de Augusten, começa a adentrar no “maravilhoso” mundo do Valium e resolve dar sua guarda para o médico e a própria para o mundo lésbico.

Na casa dos Finch, uma esposa empregada (Jill Clayburgh), vivendo da réstia que sobrou da ilusão que ela tem uma família, uma filha (Gwyneth Paltrow) empacada na esperança de ir mais longe ao seu inconsciente, mas conseguindo apenas matar animais e pessoas de raiva, outra que resolve ser crazy-bitch (Evan Rachel Wood), porque não lhe resta alternativa e mais um filho adotivo (Joseph Fiennes), que houve vozes, transa com um adolescente, acha que tudo na sua vida deveria ser de outro jeito e que a culpa disso não acontecer é do doutor.

A vida de Augusten é completamente diferente da minha. Mas suas mazelas psicológicas são tão naturais, tão próximas da realidade de tantas pessoas, inclusive da minha, que a própria identificação de para que esse filme existe me foge, como se eu precisasse olhar mais intensamente pra dentro de mim e assim conseguir perceber até onde ele chega e me faz estar perto de suas semelhanças e aprender com suas diferenças.

Ele deixa um questionamento que me fez pensar. Será que realmente desejamos toda a liberdade que achamos ser de direito? Será que, no fundo, eu não queria um pouco da minha mãe do meu lado, me ligando de madrugada só pra saber que horas eu volto porque assim o sono dela é mais tranqüilo?

Será que quando eu alugo um amigo madrugada adentro eu não só quero alguém que cuide de mim, me diga o que fazer, já que essa minha vida de fazer (praticamente) o que eu quiser não é tão fantástica quanto parece?

Há que se concordar que a vida precisa de certos limites. A maioria deles vem naturalmente, como, por exemplo, quando percebemos que sair todos os dias pode não ser tão legal quanto escolher bem sua saída e se divertir com mais intensidade numa mesma noite. Tem gente que não os percebe. Têm outros que não os acham importantes. Mas todo mundo chega num ponto que acha alguém para perceber que precisa de uma ou outra ordem superior, meio que guia.

É certo que eu detesto ser doutrinado. Todas as minhas brigas com meu melhor amigo foram motivadas pela necessidade dele em me transformar no que ele achava que era certo, quando ele mesmo jamais permitiria ser mudado. Mas limites não precisam ser sinônimos de doutrinas.

É meio quando você tem uma dúvida e uma vozinha fica na sua cabeça dizendo o que deve ser feito. Sempre eu faço o contrário e me fodo, mas pelo menos é nessa hora que eu acho que existe intervenção divina e alguma coisa maior que a gente pode estar tentando nos dizer o que é o melhor a ser feito.

O certo é que Augusten não teve limites e sim precisou limitar. E quando se tem a idade dele, fazer isso é traumático, porque você nunca sabe, realmente, aonde pode chegar.
Para não estragar quem for assisti-lo, só digo que a nem sempre as coisas se resolvem da maneira a manter tudo parecido. Às vezes, somente boas guinadas fazem com que a gente perceba o quanto nossa vida é uma merda e, somente (de novo) nós podemos dar jeito nisso.

8 comentários:

photographie disse...

Rio de Janeiro!

PS: Adorei a análise do filme!

photographie disse...

é muito mais fácil quando esses limites são impostos por outras pessoas (tipo pai, mãe ou coisa que o valha) do que quando temos que testar e descobrir isso sozinho. mas existe um mérito nisso. sei lá. acredito que quando aprendemos pelas contingências da vida, e não apenas por regras, a coisa fica mais bem estabelecida, mais firme. repara só: pode até parecer meio caótico, mas pessoas assim costumam ser bem mais coerentes. porque eles não têm o que questionar. o limite está lá. vivo e experimentado...

maria clara disse...

eu gosto quando minha mãe ou meus amigos tentam me impor limites...
não que eu os ouça sempre.
mas não existe só sua opinião no mundo... e é bom lembrar disso às vezes...



quero ver o filme...
=P
=)

Lucy, disse...

tou baixando :D

Sanmya disse...

ainda lembro o que passou
=*


e eu to loca por esse filme

Anônimo disse...

Parece um filme interessante...

Não sei se limites são bons ou ruins.Aliás, acho que limite já é uma palavra muito forte. Eu penso que nós sempre queremos um conselho, mesmo que não demos a miníma e prefiramos fazer tudo do nosso jeito. . .

Anônimo disse...

que bom ler vc de novo.
está cada vez melhor.

ps. o link no fotolog está errado.

O nome do blog é inspirado no filme "Bonequinha de Luxo" disse...

tentei ler o livro há um tempo atrás e não consegui... =)quem sabe dou mais sorte com o filme, né?