27 agosto 2007

[esgoto do bom]



O diretor Jorge Furtado tem um senso de humor fino. Só isso explica sua capacidade de nos fazer rir enquanto ele critica toda a estrutura cinematográfica brasileira, desde a maneira, por vezes sem sentido, que os recursos para a produção são distribuídos, até a forma de fazê-los nas coxas, sem perceber a real importância que um filme tem para a cultura do país.

Em Saneamento Básico – O filme (Brasil, 2007), o cineasta usa e abusa da meta-linguagem para produzir uma história que mistura esgoto e cinema. Na comunidade italiana de Linha Cristal, no sul do Brasil, os moradores decidem se reunir para, junto à prefeitura, requerer providências para a construção de uma fossa de esgotamento sanitário. Ao saberem que dinheiro para saneamento não existe, mas um recurso de R$ 10 mil foi enviado por Brasília para a produção de um filme, Marina (Fernanda Torres) decide que essa era a chance de eles terem o tão desejado esgoto.

Junto de seu marido, Joaquim (Wagner Moura), eles deixam se levar pela onda glauberiana de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", e fazem um filme de ficção no qual um monstro nascido de uma mutação genética acorda de seu sono bem no dia em que a bela Silene Seagal (Camila Pitanga) estava à caminho do seu baile de formatura. O tino para a comédia de Furtado já é bem conhecido, principalmente pelo seu ótimo trabalho em O homem que copiava (2002), mas em Saneamento ele se supera.

Diferente da maioria das comédias americanas, em que a escatologia é o modos operandi da risada, o roteiro de Furtado é leve, sem deixar de ser inteligente e, o melhor, é incansável. Dos 112 minutos de filme, poucos não são supridos de risos. Claro que, aqui, existem algo além do que o roteiro. Como suporte indispensável está a ótima atuação, principalmente do casal Marina e Joaquim.

A capacidade dos dois irem da comédia ao drama numa troca de olhares, sem que exista pieguismos, mostra uma relação sólida e, por mais engraçada que seja, bonita. E Wagner Moura dá mais uma justificativa do hype que existe em cima de seu trabalho. O seu Joaquim é de uma ignorância tão terna que fica impossível você não entender porque ele quer tanto bancar a idéia de sua esposa.

Ao fim da sessão fica a dúvida do que realmente é importante. Na diferença entre cultura e saneamento, quais são as necessidades mais primordiais da população? Mesmo com a descoberta dos talentos, como o de Marina, fazendo as vezes de produtora, ao de Joaquim, um figurinista de monstros geneticamente modificados super competente, o único desejo deles é conseguir o dinheiro suficiente para construir a fossa. Não importa se o roteiro do que é produzido é ruim ou as atuações capengas: o que basta é que o filme seja feito e a verba possa ser entregue.

Sejam os maneirismos para conseguir patrocínios para a realização do filme, seja o abuso dos governantes, que se valem da idéia dos moradores para se promoverem ou mesmo de um desejo maior de, ora, simplesmente ter saúde para quem mora na vila, Saneamento Básico – O filme atesta o talento de Furtado e prova que, tenha sua rua esgoto ou não, vale muito a pena sair de casa para ver o filme dele.

5 comentários:

J. disse...

que tesão de texto...

:D

Lucy, disse...

1)Wagner Moura andando de moto,que cena linda =~~

2)A dancinha do monstro

3)Paulo José de cientista


=D


;**

maria clara disse...

a dancinha do monstro era o melhor, caran...

=***

ana disse...

Tava esperando pelo dancinha do siri naquela parte. hahaha

photographie disse...

ótimo filme!
excelente texto crítico!!!

sobre o fim de semana:
que maravilha!!!
um bom "samba" pra você!!!

beijos