19 janeiro 2008

[caneta e caderno]




[idéia da clarinha, que fez bem melhor do que eu]


Na quinta série eu mudei de uma escola em que vinha estudando desde o maternal para outra que era somente uma idéia distante na minha cabeça infantil. O que eu achava mais legal era o fato de que agora eu teria cadernos com pautas, escreveria de caneta e iria usar uma calça para ir à aula ao invés de calção.


Descobri, estarrecido, que existem números menores do que zero, que história era a matéria que eu mais gostava e que dizer que se namora é bem diferente de namorar. Dois trabalhos de ciências não podem ser esquecidos: o primeiro, quando a professora pediu que levássemos um achocolatado para a aula e tomássemos inteiro, sugando a caixinha para comprovar uma idéia dela.


O interessante é que isso me deu uma dor de barriga terrível, fazendo com que meu ódio àquela mulher ganhasse contornos de maldade, mesmo que, com 11 anos, a minha maldade era a mesma de um coelho. A outra foi quando confeccionamos uma biruta, aquele troço que marca a direção do vento. A gente foi até uma metalúrgica para que fosse feita a base, contratamos uma costureira para montá-la (com um pano xadrez, vermelho com branco) e gastamos tanto quanto um garoto daquela idade poderia gastar.


Bem, valeu um 10 e até hoje a biruta está na escola servindo de exemplo para as massas que continuam sendo formadas no Colégio das Irmãs de Picos. Na sexta eu comecei a estudar de manhã, depois de cinco anos à tarde. Lembro bem que foi quando eu iniciei minha paixonite pela minha "ex-namorada", sendo que ela já não andava muito aí para meus apelos, mas as lembranças dessa época são muitos poucas, acho que porque eu não era uma pessoa muito feliz.


Minha felicidade era ficar em casa, paparicando a barriga da minha mãe, que crescia e me fazia cada vez mais ansioso. Da escola em si eu não guardo lembranças fortes, nem mesmo ruins, o que é vantajoso porque, realmente, eu odiava minha vida. A sétima série seguiu quase da mesma forma. Tem um lance que eu me lembro bem que foi quando eu fui expulso de sala porque estava lendo "O mundo de Sofia" na aula de matemática.


Minha mãe, que trabalhava na escola em que eu era aluno, me viu no local onde ficavam os expulsos e me perguntou o que havia acontecido. Quando eu disse que o problema era com o livro, ela ficou meio sem argumentos, já que achava o máximo eu me interessar por literatura, algo que acontecia desde meus nove anos. Nem brigou. Meu irmão havia nascido, então a escola não era nada interessante quando se tinha a pessoa mais perfeita do mundo em sua casa, todos os dias.


Na oitava, minha vida mudou. Tenho muitas lembranças desse ano, porque eu fui muito feliz na minha sala, com gente legal, histórias legais, muita conversa e risada. Meu melhor amigo havia quase sido reprovado em outra escola e voltávamos a estudar juntos depois de três anos e eu meio que fiquei popular (não que isso fosse interessante, mas ajuda demais quando se tem 14 anos). Lembro que ele tinha (tem) grana e a gente organizou o que chamamos de "Festão do PJ". Ele era o PJ e a festa era do aniversário dele e foi mesmo uma super festa para os padrões "só cerveja escondido" que tínhamos à época.


O grupo era bem legal nesse tempo. Eu, PJ, Alisson (que era o mais careta e hoje é um dos mais malas) e Fábio (um dos caras mais inteligentes que eu conheci e a única pessoa que entendia minhas ironias, hohoho) éramos os que andávamos mais juntos, principalmente porque todos eles era amigos de infância, por conta de que nossos pais também eram amigos.


A gente sempre inventava de sair à tarde, nas casas uns dos outros, com churrascos de pão, um bocado de filmes, tomando banho de piscina e até mermo inventando trilhas de bicicleta. Aliás, bicicleta era "O" meio de transporte. Com a minha Mountain Bike de 18 marchas, eu rodava Picos inteira, e ainda levava alguém às vezes. Fiquei com meninas mais velhas, de séries mais adiantadas que a minha, o que foi trágico porque eu fiquei doidinho por ela e ela só queria diversão (chora, emo!).



Essa também foi a época dos grandes shows lá em Picos. Lembro que fui para Companhia do Pagode, Terra Samba, Zezé (:~~), e Zé Ramalho (de quem eu gosto até hoje). Lembro bem que tinha sido expulso de sala no dia anterior à um super show. Chegando em casa, minha mãe, que sempre era avisada quando o filhinho se envolvia com maloqueiragens, disse que se isso acontecesse de novo, lá estava eu perdendo a chance de ver o artista famoso. No dia seguinte, sou tirado de sala logo na primeira aula, pelo professor de Geometria que era gay (casado, com filho, mas quem se importa, né?). Me escondi na salinha dos expulsos, de luz apagada ainda, e fiquei esperando tudo acabar. Esforço compensado: à noite fui ver o Daniel ("Ai eu adoro amar vocêêê!!!").



Ganhei uma festa de aniversário surpresa, no mesmo dia em que fazíamos nosso churrasco de despedida do ensino fundamental mas, nesse tempo, eu só pensava em me mudar de Picos para a capital, ganhar a vida longe da roça...


Primeiro, segundo e terceiro ano eu falo depois, nessa retrospectiva desinteressante e boba...

8 comentários:

Lucy, disse...

"Descobri, estarrecido, que existem números menores do que zero"

DOIDO!Eu pirei tipo "como assim zero é zero!!!?"
mudou totalmente meus conceitos de o quanto fodida uma pessoa pode ser, por que afinal nem a matemática é justa, para -1, -2, oh man...

Aiara Dália disse...

ain, pois eu tô achando interessantíssimas e quase criando coragem pra fazer a minha! x]

dane_ly disse...

...é emocionante o jeito como tu ama teu irmão...

maria clara disse...

"retrospectiva desinteressante e boba"?
eu semprei achei que as pessoas bombam mais a partir da oitava série...

p.s.: eu também quase piro com a história do zero..
hahahahaha

Sanmya disse...

"interessante é que isso me deu uma dor de barriga terrível"


provando que se tratava realmente de rafael campos

luana disse...

óbvio que eu jamais seria capaz de escrever uma retrospectiva dessas... no max eu lembro do primeiro ano pra cá.. até pq até o primeiro ano eu não era mesmo uma pessoa considerada..... hauuahuhauuaha

Mia disse...

Concordo com Clarinha... a vida só é vida depois da oitava série! A pessoa vira gente kkkkkk
Ri pacas. E constatei. TOOOODO mundo já estudou em colégio de freira ou de padre rsrsrsrs
Continua, vai!

=*

Jose Derpann disse...

farei a minha assim que chegar no trabalho! :D