21 janeiro 2008

[mais canetas e cadernos]


Meu ensino médio pode ser resumido em uma palavra: mudança. De um moleque super inseguro e dependente do ninho familiar, tive de me acostumar a idéia de solidão estudantil, morando em um pensionato cheio de velhos e pessoas com doenças estranhas e, claro, tendo 15 anos e entrando em uma escola nova.

Fui parar no Anglo Diferencial, o antro dos estudantes menos ricos que vinham do interior. O 1º C não era a sala dos alunos da roça, nem a dos mais inteligentes, nem as dos mais bagunceiros. Aliás, nunca saquei essas divisões no ano em que fiquei lá. O certo é que morava há uma rua do colégio e, quando cheguei, o Piauí tava no horário de verão e quando eu saía de casa ainda estava escuro (?).

Escola nova, aquela coisa de ficar olhando e analisando. Mas, falador como eu sempre fui, logo quis me entrosar. Fiquei no meio termo. Não me envolvia somente com os nerds e nem só com a galera do fundão e sentava no meio da sala justamente por conta disso. Fiz meu primeiro melhor amigo da minha lista anual de melhores amigos, o Luilson, que era meu vizinho e um mala de marca maior (o que eu achava massa demais). Aliás, conhecê-lo me lembrar de uma coincidência.

Ele, no ano seguinte, em que me mandei de Teresina, acabou ficando muito amigo da Natália, que hoje é super chegada. Também fiquei amigo da Neila, que em 2001 namorou o Pedro, o mesmo que em 2005 viria a se tornar meu melhor amigo. Sim, Teresina é um ovo. Voltando à escola, o Anglo era estranho. Paredes de gesso, espaço minúsculo e bem mais puxado do que meu costume escolar.

As paredes, nós furávamos para passarmos bilhetes entre as salas, o espaço ajudava a gente a conversar mais e o ritmo eu me adaptei, tanto que nem fiquei de prova final (só em trigonometria, mas aí já era querer demais). O que eu não entendia mesmo era a dinâmica adolescente. Não tive muita vida social no ensino médio, só quando voltava para Picos. Não saía muito, no máximo ia ver filme com o Luilson, o que não conta como saída (lembro bem que a gente viu “Todo mundo em pânico” e ficamos uns três meses falando o tempo todo “What’s uuuuuuuuuup?”).

Não mantive nenhum relacionamento, só pegações mesmo, inclusive com uma mocinha do Anglo Mirim, como se chamava na época, que era a coisa mais linda do mundo. Ainda era apaixonado pela minha ex e chorava feito besta porque ela não me queria. Descobri o mundo mágico de passar bilhetes na sala de aula e comecei a usar mais de uma caneta para fazer minhas anotações, mania que fui perder, ainda bem, no ano seguinte.

Não sobrou quase nada do Anglo (se bem que teve o dia em que as paredes balançaram e todos achamos que íamos morrer, mas foi só alarde). Apesar de ainda quando eu vejo certas (duas ou três) pessoas nós nos falamos com um oi, as amizades se perderam por conta que eu não quis mais ficar em Teresina. Durante as férias, minha tia que mora em João Pessoa perguntou se eu não queria morar lá com ela.

- Posso pai?

- Se você quiser.

E lá ia eu para outra cidade em um ano. Nunca vou esquecer meu olhar para Jampa. Cheguei à noite, nem pude ir logo à praia, com certeza um dos pontos que mais me fizeram mudar. A praia era meu refúgio. Fiquei bem mais sozinho em João Pessoa do que era em Teresina, mesmo que eu não tenha nenhuma mágoa do tempo em que passei lá. Mas eu era mesmo solitário e ficar sentado na praia ou mesmo caminhar todo o domingo de manhã como eu fazia era de uma necessidade tremenda.

Fui parar no Colégio Geo, esse sim o antro dos bem nascidos da capital paraibana. Era filho de juiz, desembargador, super médicos, políticos, até donos de redes de motéis que iam para a escola em carrões amarelos e chamativos (tanto que o bedel uma vez entrou na sala perguntando quem queria ir para a Disney – DE NOVO!). Cheguei ao 2º D, também não dividido em grupos. Os paraibanos são bem mais difíceis de conquistar que os piauienses. Não sei se pela distância de onde eu vinha, foi complicado o entrosamento, mas nada que me abalasse.

Daí fiquei amigo do Diogo. Esse era mais mala ainda do que o Luilson, do tipo que uma vez levou uma arma de fogo para a escola porque iria vendê-la para um cara lá dentro mesmo. MEDO! Mas ele era gente boa demais, músico e tal; tinha uma namorada de três anos e meio com a qual não mantinha relações sexuais e eu achava super estranho, mas não comentava nada. Também foi a época da Tatiane, uma coisinha pequena e fofa que me ajudou um bocado a gostar mais da cidade. Ela veio a se tornar uma amiga incrível, mesmo que hoje a gente esteja bem distante (o que, aliás, é regra na minha vida).

Meu segundo ano foi meio que um tempo de adaptação. Botei na cabeça de ficar mesmo em João Pessoa para o terceiro ano e ia seguindo a maré, conhecendo mais gente. Foi quando eu descobri o prazer de ir ao cinema sozinho, que achei Gorillaz e combinava as músicas do primeiro cd com os locais da Terra Média e, meu deus, Harry Potter adentrou na minha existência.

Então veio o terceiro ano e eu tive a melhor época escolar da minha vida. O 3º G já começava torto quando, por falta de salas disponíveis, fomos colocados no auditório do Geo para assistirmos aula. A porta, de vidro, tinha cortinas nas quais os tarados da sala (nos quais eu não me incluía, claro) enrolavam as meninas e meio que faziam um rocambole com elas. As meninas, por sinal, eram o motor da bagunça. Lia, Larissa, Priscilla, Natália, Lucille, Roberta, Tati, Fernanda (mesmo dormindo quase 70% das aulas)... Meo, essas moças eram um terror e, claro, sempre faziam carinha de santas quando eram reclamadas.

Foram elas que ficaram bêbadas no Bregareia e foram para a aula fedendo a cachaça. Foram elas que davam em cima de professores, como Tranquilino e um de história que não lembro mais o nome. Elas que faziam um merdinha de literatura perder as estribeiras e começar a espumar pela boca (cena patética e reincidente). Eu acordava satisfeito em ir para a escola porque não existia uma manhã sem que a gente risse mermo de muito.

Tinham ainda os tipos. Jesus, uma moça que sempre ia com o cabelo armado e que, não sei, deram para colocar o Nazareno como apelido dela. Tínhamos Miss Patos, que hoje é amiga da galera, mas antes era a moça gatinha que ninguém queria por perto. Doug, que ganhava musiquinha cada vez que ia ao banheiro. São Jorge, que era auto-explicativo quando você sabia da coisinha que ele havia pegado. Palhaço, nome que gritávamos a cada momento em que ele se mostrava. Bareia, que nunca entendi o apelido. A Esquisitinha, que punha óculos escuros na hora do intervalo e colocava a camisa de modo a mostrar a bunda (e que ganhou um montinho no fim do ano só dela, depois de olhar todos ávida por participar). Pig, que era loirinha e rosada igual a personagem do Muppets Babies. Raimunda, feia de cara e boa de bunda. Paula Barata, simplesmente porque ela resolveu levar uma barata de plástico para a escola. Abelardo, que tinha um nome que era apelido.

Mas três situações são exemplos-mor do quando a gente se divertia. A primeira eram os montinhos. Outro momento para os tarados bulinarem as meninas, os montinhos viraram marca registrada da nossa turma, que os fazia em cada intervalo de aula. Tanto fizemos que, em um belo dia, quebramos a porta de vidro da sala e nunca vou esquecer a cara de terror de Priscilla, a dona do pé que chutou o vidro, levantando a mão para assumir a culpa.

Depois tínhamos a música bandeira branca, aquela marchinha de carnaval, que era entoada cada vez que recebíamos algum papel de professores e isso acontecia muuuuuuito no Geo. E, claro, o churrascão do Natalião, uma cachaçada que fizemos quando os pais de Natália viajaram e rendeu muitos ficas, vômitos pela casa inteira, mulheres fazendo strip na mesa, gente se jogando no meio do asfalto e outras coisas que não vou me lembrar.

Foi quando eu fiquei próximo de Lia, a garota que me fez ver que ser eu mesmo era bem mais interessante do que tentar não sê-lo e ela nem tem noção do quanto isso é elogioso da minha parte e o quanto que eu sinto falta do que nós éramos juntos. Foi quando eu fiquei com Tatiane e foi bom demais. Foi quando teve a aula da saudade em que todo mundo chorava e Ticiano e Rafaela ficaram a primeira e vez e, agorinha mesmo, vi no orkut deles que agora são marido e mulher. O ano acabou com a certeza de que não deveria mais ficar ali em João Pessoa. Não passei no vestibular, fiz cursinho, entrei na UFPI e tô me formando... Mesmo com gente da minha turma já casando, nem parece que passou tanto tempo...


8 comentários:

Sanmya disse...

Depois tínhamos a música bandeira branca, aquela marchinha de carnaval, que era entoada cada vez que recebíamos algum papel de professores e isso acontecia muuuuuuito no Geo.


kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
tu já fez isso pra eu ver
e ainda tinha o binóculos do 'em nome do amor'

J. disse...

"Também fiquei amigo da Neila, que em 2001 namorou o Pedro, o mesmo que em 2005 viria a se tornar meu melhor amigo. Sim, Teresina é um ovo."

doido, tu era pagodeiro, eu metaleiro, hoje a gente dança funk juntos.

teresina é um ovo e o tempo é uma benção.

te amo! :D

J. disse...

detalhe, essa diferença importa muito, por que pelo que já concordamos, não seríamos amigos nessa época nem que fossemos os últimos homens da terra.

adoro os giros que essa porra dá. :D

Anônimo disse...

Rafa, é preciso tecer alguns comentários:

1. Luilson e recadinhos passados - de sala a sala - pela 'parede'. Realmente, são duas coisas que não dá pra fazer cognição.

2. Chegou na parte do terceiro ano eu sabia que iriam rolar parágrafos e e mais parágrafos.

3. Vejo que vc desconsiderou completamente o núcleo [masculino] pobre da trama. Que q há velhinho?

Aline disse...

teresina é um ovo de codorna. ui!

=*

Mia disse...

O segund ano sempre é o mais cheio de coisas. Meo, Harry só entrou na minha vida no pré!
Rsrsrs

=*

Lucy, disse...

ah o tempo passa mesmo fi, num instantim!=~~

maria clara disse...

a gente nunca acha que passou tanto tempo, né?
eu até acho estranho o povo casando...
eu penso: tão cedo...